Homem perde mãe e mulher para a Covid-19 em menos de 15 dias em SC

Mãe de Alessandro Santos, Maria das Graças Antônio dos Santos, morreu em 5 de junho, aos 67 anos. Juliana de Jesus Campos, de 33 anos, também não resistiu à doença.

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A cidade de Joinville, no Norte catarinense, registrou a perda da moradora mais jovem por coronavírus: Juliana de Jesus Campos, que completou 33 anos em 18 de junho, data que passou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José. Para o marido dela, Alessandro Santos, é um momento de duas perdas: a mãe dele, Maria das Graças Antônio dos Santos, também morreu por coronavírus em 5 de junho, aos 67 anos.

“Infelizmente nossa família foi mais uma vítima da Covid-19. Minha mãe e minha esposa ficaram internadas e acabaram não resistindo. As duas vieram a óbito, primeiro minha mãe e depois minha esposa, em 15 dias”, afirmou o marido.
Com essas mortes, já são 33 pessoas que perderam a vida para a Covid- 19 no município desde o início da pandemia. Santa Catarina tem 20.921 casos confirmados de coronavírus, incluindo 279 mortes, segundo o boletim divulgado pelo governo de Estado na noite de quarta-feira (24).

”Queria conscientizar vocês que o vírus mata. Aqui é mais uma família que está chorando devido ao coronavírus. Tem que se cuidar sim, se proteger sim, essa dor que estamos passando que mais ninguém passe por isso. É muito doloroso“, disse. Juliana havia sido diagnosticada com lúpus há cerca de seis meses. A doença causava cansaço, inchaço e dores no corpo, e já havia provocado um problema no rim.

Mesmo assim, Alessandro conta que nada disso a impedia de viver bem, acompanhar o crescimento das duas filhas, de 13 e 14 anos, e de continuar realizando os sonhos que eles tinham juntos há 16 anos, desde que começaram a namorar, em Itanhaém (SP).

“Mudamos para Joinville há cinco anos para buscar uma vida melhor, e estávamos conseguindo. Compramos um [imóvel] geminado na planta que vai ficar pronto daqui a um mês. Infelizmente, não deu tempo de ela morar lá”, lamentou Alessandro.
Juliana trabalhava como vigilante mas, depois que foi diagnosticada com lúpus, passou a dedicar-se à venda de bijuterias e outros acessórios pelas redes sociais. O marido dela conta que a mulher era muito querida por todos e que, depois que contraiu o coronavírus, havia grupos fazendo orações por ela em várias cidades do país.

“Ela era cativante ‘de alma e coração’. Era minha pilastra, e de toda a família. Nem nos meus piores pesadelos eu imaginei que poderia perdê-la”, contou Alessandro.
​Em maio, a mãe de Alessandro deixou São Paulo justamente para sair do local que era o epicentro da pandemia quando a doença chegou ao Brasil. Após alguns dias, no entanto, ela começou a passar mal e todos os integrantes da família foram socorrê-la.

“Não imaginamos que poderia ser coronavírus. Então, eu, minha esposa e minhas filhas todos tivemos contato com ela”, recordou Alessandro.
Maria da Graça foi para o Hospital São José e, dois dias depois, foi diagnosticada com a Covid-19. Dois dias depois, Alessandro começou a sentir-se mal e também precisou ser internado no Hospital São José. Os médicos chegaram a cogitar o uso dos respiradores, mas Alessandro conseguiu evoluir e pôde voltar para casa para concluir o período de tratamento e isolamento.

No entanto, dois dias depois de ele retornar do hospital, foi a vez de Juliana começar a apresentar os sintomas da Covid-19.

“Ela começou a sentir falta de ar e foi internada. O teste positivo veio dois dias depois e, no terceiro dia, informaram que precisavam entubá-la com urgência. Foi a última vez que falei com ela, por videoconferência”, afirmou o marido.
Nesse meio tempo, as filhas de Alessandro e Juliana também testaram positivo para coronavírus, mas puderam permanecer em casa. Elas tiveram perda de paladar e olfato, sintomas da Covid-19, enquanto tinham mãe e avó internadas na UTI de Covid-19. Maria da Graça morreu em 5 de junho, enquanto Juliana ainda lutava pela vida no hospital.

“Não pude ver minha mãe, nem mesmo seu caixão. É muito ruim a sensação de não saber se é a pessoa mesmo que está lá, de não poder se despedir”, disse Alessandro.
Menos de duas semanas depois, ele recebeu uma ligação do hospital dizendo que apesar do quadro de Juliana ter evoluído por um tempo, ela estava dependendo totalmente dos respiradores. Naquele momento, Alessandro disse que sentiu que estava também perdendo a esposa.

Depois, ele recebeu uma permissão incomum: foi autorizado a entrar na unidade para ver a esposa pela última vez, um dia antes da morte de Juliana.

“Os médicos viram minha situação, de como perdi minha mãe. E acho que, como já havia contraído a doença, eles puderam autorizar minha entrada. Foi muito bom poder me despedir, aliviou um um pouco a dor. É uma pancada muito grande“, recordou Alessandro.

Mortes em Joinville
A primeira morte por coronavírus foi do empresário Mário Borba, em 30 de março, aos 68 anos. A maioria dos pacientes que perderam a vida na cidade tinha mais de 60 anos, exceto pelos técnicos de enfermagem Claudiomiro Silveira Rattis, de 44 anos; e Lúcia Isolde Rocha Henrique, de 56 anos; e por outro morador que faleceu nesta semana, também com 56 anos.

O isolamento domiciliar compulsório para moradores com idade acima dos 60 anos entrou em vigor nesta quinta-feira (25) na cidade. Conforme a medida, os idosos, que compõem o grupo de risco da doença, podem sair de casa apenas para ir ao trabalho, atendimento médico ou comprar alimentos e produtos de saúde. Quem descumprir as regras, será orientado a voltar para casa.

A prefeitura justificou a medida pela quantidade de pessoas dessa faixa etária entra as vítimas fatais e pela taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva (UTI), que chegou a 64% na segunda (22), o maior índice desde o começo da pandemia. O decreto municipal não estabelece prazo para as restrições.

Fonte G1SC

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