Entre a sala de aula e as pistas, Rodrigo Nascimento celebra o ouro no Pan de Lima

Depois de insistir na carreira de jogador de futebol e sem deixar os estudos de lado, Rodrigo Nascimento optou pelo atletismo e conquistou títulos continentais e mundiais

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Nascido em Itajaí, Rodrigo Nascimento alimentava o sonho de ser um atleta profissional desde criança, mas não no atletismo. Ele queria ser jogador de futebol e alimentou esse sonho até os 17 anos.

O primeiro contato com o atletismo aconteceu ainda na escola, quando participou do JEI (Jogos Escolares de Itajaí). Na época, Rodrigo tinha 14 anos e foi convidado por um professor para participar e acabou se saindo muito bem. Mesmo com o excelente desempenho, o atletismo não prendeu o atleta em um primeiro momento e ele seguia em busca do seu sonho com o futebol.

Rodrigo Nascimento faz parte da equipe brasileira de revezamento 4×100 que conquistou o ouro no Pan 2019 e também é campeão mundial – Wagner do Carmo/COB

Rodrigo chegou, inclusive, a realizar testes no time do Marcílio Dias. Não foi aprovado, mas continuou tentando porque adorava o futebol e não queria correr. Até que chegou o momento em que o futebol teve que ser deixado de lado.

“A vida foi passando e chegou uma época que não dava mais para continuar tentando o futebol, já estava com 17 anos e precisava começar a ajudar minha mãe em casa. Comecei a trabalhar nessa época e nunca mais tive contato com o atletismo, mas sempre era lembrado pelo meu talento para correr”, relata.

Quis a vida que um amigo trouxesse Rodrigo de volta para o atletismo pouco tempo depois. Enquanto dividia seu tempo estudando pela manhã e trabalhando como office boy à tarde, o futuro campeão mundial foi convidado por um amigo para matar a saudade do pessoal do atletismo e do professor Luciano Moser. Durante a visita, Rodrigo foi convencido por Luciano, a quem considera um pai, a voltar a treinar e aceitou.

A rotina ficou puxada, estudos pela manhã, trabalho à tarde e treinos à noite. Até que chegou o momento em que os resultados apareceram no atletismo e lhe ofereceram o mesmo salário do estágio para apenas treinar.

Foi aí que começou de forma definitiva a relação do atleta mais rápido do Brasil na história com o atletismo de forma permanente. Em pouco tempo Rodrigo se tornou campeão Pan-Americano juvenil, sul-americano, mundial e agora com vaga garantida nas Olimpíadas de Tóquio em 2020.

Hoje a base de treinos do atleta deixou de ser em Itajaí. Rodrigo se mudou para São Paulo, onde cursa a faculdade de educação física, com uma bolsa de estudos por causa do atletismo, e realiza os treinos também na capital paulista.

Pan-Americano e Olimpíadas
No Pan de Lima, além do ouro no revezamento 4x100m, Rodrigo ficou muito próximo de também conquistar uma medalha nos 100 metros rasos, prova na qual terminou na quarta colocação. Para o atleta, o que faltou para conquistar uma medalha foi uma maior concentração.

“O que faltou para eu conseguir a medalha foi concentração, foi no detalhe que eu perdi. Na largada teve uma queima e depois não concentrei para a segunda largada, não foi bom. Se voltasse bem para a segunda largada faria outro resultado, mas isso deu forças para ir com tudo na prova do revezamento. Entrei com raiva no coração, já perdi uma, agora não, aqui é nosso, pensei”.

Dito e feito! Na sequência da competição o ouro veio na prova do revezamento e Rodrigo destacou a força do conjunto brasileiro.

“Eu vejo pelas equipes passadas do revezamento que o nosso principal diferencial é a união. Ela é essencial, somos os mais rápidos da história do Brasil, mas sem a união a equipe não chegaria onde chegou. Também temos a melhor passagem de bastão do mundo e isso é um diferencial, nos dá uma vantagem bem legal”, explicou o atleta.

Agora o foco é na Olimpíada de Tóquio, onde Rodrigo já está classificado na prova individual e a equipe do revezamento também já garantiu vaga. A forma de classificação para os Jogos é pela obtenção do índice olímpico, sem importar em qual competição o atleta alcance a marca pré-determinada.

Na prova dos 100 metros rasos, Rodrigo garantiu o índice no último domingo (18), quando alcançou também a melhor marca de sua carreira com o tempo de 10,10 segundos. O tempo foi conseguido em uma competição interna do Clube Pinheiros, em São Paulo.

Agora, ele entra em um período de apenas treinos e preparação visando Tóquio-2020. A próxima competição marcada é o Campeonato Mundial, que acontece a partir de 27 de setembro, em Doha, no Catar. O itajaiense pretende chegar com fôlego na Olimpíada para baixar o tempo de 10 segundos nos 10 metros rasos. Atualmente o atleta já possui a melhor marca de um brasileiro.

Atletismo Brasileiro
Rodrigo acredita que atualmente o Brasil está vivendo o seu melhor momento na história no atletismo, em temos de potencial dos atletas. Mas por outro lado, também vive o seu pior momento financeiro.

O atleta afirma que o quê o mantém competindo é o apoio das Forças Armadas. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) auxilia com viagens e estrutura, mas o momento é complicado sem salários de clubes.

A iniciativa privada, na visão do corredor, seria uma alternativa que poderia nortear o desenvolvimento do atletismo e de outras modalidades no Brasil, uma vez que no final da formação dos atletas, estes ficam sem apoio.

“O apoio da iniciativa privada seria excelente, o governo ajuda na base e isso é legal e interessante, mas uma hora a base cresce. Depois que cresce acaba o apoio do Governo e mesmo rendendo bem não tem uma empresa privada que pague para o jovem seguir no caminho do esporte. Muitas vezes se investe bastante na infância e depois acaba perdendo o investimento porque o atleta abandona o sonho por falta de apoio e incentivo”, finaliza o campeão.

fonte:nd+

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